quinta-feira, 29 de março de 2012

...d'après Paul Claudel.

Há sempre qualquer coisa em mim que quer transformar-se em palavras.

A vida inteira em letras seguidas.

Palavras que aparecem depressa.

Vestígios de solenidade.

Tangentes à poesia.

Nomes de coisas.

Desenho helvético a ilustrar a rotina.

A vida inteira em letras seguidas.

E depois as palavras lado a lado.

A falarem por nós. A falarem de nós.

Em fundo branco. A tomarem peso.

Ou ditas em choro. A perderem-se em dores.

A companhia quando vigiamos o escuro.

As imagens límpidas de quem não vê.

Sussurradas, perto do fim.

Fossem elas o que fica.

Seriam os nossos restos mortais. Sobreviventes das exéquias.

A ressoarem morte dentro.

Vida fora.

Há sempre qualquer coisa em mim que quer transformar-se em palavras.

Até que as palavras são tudo o que resta. Tudo o que é.


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